O Papel da IA em Profissões de Serviço: Uma Questão de Habilidades Essenciais


Em recente pesquisa realizada pela Microsoft e disponibilizada no site G1 das organizações Globo, (“As 40 profissões mais impactadas pela inteligência artificial, segundo estudo da Microsoft), estudo que considerou o mercado de trabalho americano; carreiras que dependem de linguagem, computação, matemática ou tarefas repetitivas têm maior chance de serem impactadas por Inteligência Artificial (IA); trabalhos manuais ou físicos tendem a ser menos afetados.

Sendo assim, trazemos uma análise sobre duas profissões citadas: Comissário de Bordo e Auxiliar de Enfermagem  pois toca no ponto central da discussão sobre a Inteligência Artificial e o futuro do trabalho: a atuação com o público. O contato direto com o cliente seria um fator de risco ou de proteção, mas a realidade é mais complexa. A diferença reside na natureza das tarefas e das interações humanas de cada profissão.

OBS: Vamos considerar neste texto, para fins de entendimento,  o Auxiliar de Enfermagem como o profissional de Enfermagem que executa as atividades DIRETAS ao cliente, independente de seu grau de escolaridade.

Vamos aprofundar essa análise, com base em estudos reais, para entender por que a enfermagem, e especificamente o auxiliar de enfermagem, é considerada uma das profissões mais resilientes à automação.


Introdução

As pesquisas que analisam o impacto da IA e da automação no mercado de trabalho, como o seminal estudo de Frey e Osborne (2013) da Universidade de Oxford e os relatórios subsequentes da McKinsey & Company, categorizam as profissões com base em três tipos de habilidades que são difíceis de automatizar:


Percepção e Manipulação: A capacidade de realizar tarefas manuais complexas em ambientes imprevisíveis.


Inteligência Criativa: A habilidade de gerar novas ideias e soluções originais.


Inteligência Social e Emocional: A capacidade de interagir, negociar, persuadir, demonstrar empatia e cuidado.


É na terceira categoria que encontramos a maior distinção entre comissários de bordo e auxiliares de enfermagem.


Comissário de Bordo: Altamente Impactável pela IA

Embora o comissário de bordo interaja diretamente com o público, a maior parte de suas tarefas operacionais é procedural e de segurança. Algoritmos de IA já podem otimizar o check-in, gerenciar o estoque de alimentos, monitorar condições de segurança em tempo real e fornecer informações de voo personalizadas aos passageiros.

O serviço de bordo pode ser automatizado por robôs ou sistemas de autoatendimento. Embora a presença humana seja essencial para situações de emergência, mesmo essa área pode ser apoiada por sistemas de IA que analisam dados e sugerem os melhores protocolos. O contato humano que resta, embora importante, muitas vezes não exige um nível profundo de inteligência social ou emocional que seja insubstituível. A interação é, em grande parte, transacional.


Auxiliar de Enfermagem: Altamente Resiliente à IA

Em contraste, o trabalho do auxiliar de enfermagem no Brasil e no mundo é centrado em uma combinação de habilidades que a IA, por enquanto, não pode replicar:


Toque Humano e Cuidado Físico: O trabalho envolve tarefas manuais complexas em ambientes imprevisíveis, como ajudar um paciente a se banhar, vestir-se, alimentar-se e se mover. Essa é uma tarefa de "percepção e manipulação" que exige adaptabilidade e sensibilidade que robôs ainda não possuem.


Inteligência Social e Emocional Profunda: A essência da enfermagem, em todos os seus níveis, é o cuidado humano. O auxiliar de enfermagem, por exemplo, não apenas monitora sinais vitais, mas também oferece conforto, empatia, apoio emocional e interpreta a linguagem não verbal do paciente. Essa capacidade de criar vínculo, acalmar o paciente e interagir de forma empática é uma forma de inteligência social e emocional que a IA não consegue simular de forma genuína.


Tomada de Decisão em Ambiente Inesperado: Embora trabalhe sob supervisão, o auxiliar de enfermagem lida com situações inusitadas a todo momento. A IA pode auxiliar na análise de dados, mas a decisão final em um momento crítico, o "olho clínico" e a capacidade de adaptação a imprevistos dependem de um ser humano.


Conforme destacado pelo próprio Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), a IA é uma aliada poderosa que pode otimizar processos administrativos, prever riscos e organizar o trabalho, mas não substitui o cuidado humano (COFEN, 2024). A tecnologia deve ser usada para "aliviar a rotina dos enfermeiros", liberando tempo para o que realmente importa: a interação direta e humana com o paciente.

A principal diferença é que o trabalho do comissário de bordo pode ser, em grande parte, desmembrado em tarefas operacionais e procedimentais que a IA e a robótica podem automatizar. Já o trabalho do auxiliar de enfermagem é uma mistura indissociável de habilidades físicas, emocionais e sociais que são a essência do cuidado, tornando a profissão uma das mais seguras em face da automação.


Referências


COFEN. (2024). Inteligência Artificial é essencial à Enfermagem, mas não substitui o cuidado humano. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/inteligencia-artificial-e-essencial-a-enfermagem-mas-nao-substitui-o-cuidado-humano/


Frey, C. B., & Osborne, M. A. (2013). The Future of Employment: How Susceptible are Jobs to Computerisation? Oxford Martin School, University of Oxford.


McKinsey & Company. (2017). Jobs Lost, Jobs Gained: What the future of work will mean for jobs, skills, and wages. Disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-insights/future-of-work/jobs-lost-jobs-gained-what-the-future-of-work-will-mean-for-jobs-skills-and-wages/pt-BR


G1: As 40 profissões mais impactadas pela inteligência artificial, segundo estudo da Microsoft . Acesso em 07/08/2025.

Equipe TUNA CATUNNA


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